Não dá outra. É só ter mulheres reunidas para que se
fale de idade.
Perguntam a minha e respondo com satisfação, pois ,a
menos que eu fosse um queijo, que tem que estar sempre fresco, a idade não me
preocupa em nada.
Invariavelmente ouço um solidário: -Não parece!
Prestes a completar setenta anos sinto-me com vinte.Meu
entusiasmo pela vida não arrefeceu, ainda não desisti dos homens e continuo
vaidosa,como sempre.
Trabalho doze horas por dia e não me canso porque o
cansaço é muitas vezes consequência de
um trabalho feito sem carinho,um trabalho mercenário,digamos assim.
Alguém se espanta:
-Mas,não trabalhamos para nos sustentar e ganhar
dinheiro?!
-Também, respondo.
Mas,o bom
trabalho tem que ter uma dose de desprendimento, satisfação de realizá-lo, o
prazer de “fazer acontecer” que se chama realização pessoal.E, esse trabalho
nos mantém vivas e jovens.
As mesmas palavras que eu rabiscava aos vinte anos
no meu diário particular ,eu as rabisco,hoje; apenas elas estão mais
firmes,seguras,não se importam de aparecer.
Ser você mesma é uma das delícias da velhice.
Xi,quanta gente tem medo dessa pequena palavrinha.Lembra
morte,pele sem viço,vista fraca, inutilidade,dizem. Mas, também, pode significar
sabedoria,nobreza,desprendimento, aceitação,compreensão.
Então, a morte não fecha o ciclo da vida?
Então, o que perdemos em viço não ganhamos em
conhecimento?E, o brilho do olhar, vem do corpo ou do espírito satisfeito com
ele mesmo?
Para a vista
fraca existem os óculos.E, como a Natureza é sempre sábia,enxergando menos não
percebemos as rugas.Ademais,temos os cremes milagrosos...
Desde tempos imemoriais se procura a juventude
eterna sem perceber que ela existe, mas,nunca pomos onde realmente está.Ela
habita o nosso espírito e tem que ser cultivada ,não é um dom grátis.
Ela habitava o espírito de Millôr, de Chico
Anysio,de Chaplin,do Ariano e de muitos outros ,famosos ou não.
Ficar gagá não está nos meus planos nem do seu,amigo
ou amiga.Quero o Alemão longe de mim ,porisso exercito diariamente meu cérebro.
Como não tenho tempo para pensar em idade,nem em
doença ou morte, elas ficam me espiando de longe.Se eu abrir a guarda...pimba!
Portanto, também sou adepta das mudanças.
Adapto-me á realidade que se me oferece. Para que
uma grande casa cheia de móveis pesados ,como já tive, numa época onde
encontrar uma ajudante é mais difícil que tirar a sorte grande.
Para que roupas desconfortáveis e modernosas
,sapatos altíssimos que não dão segurança ao andar e nos faz parecer um pato
manco?
E a maquilagem exagerada,o abuso nos verdes e azuis
que nos fazem parecer uma vedete fanada.
Há uma beleza
sóbria ,elegante, na face vencida pelos anos.
Não, não queremos competição, queremos apenas a
alegria de viver; não queremos um garotão de vinte anos, um garanhão que nos derrube, preferimos um asno confiável
que nos carregue no lombo e nos trate com doçura.
A idade nos faz ficar agarradas a trastes velhos que
fizeram parte do nosso passado e é com muita relutância que nos separamos
daqueles cristais do casamento ou da cômoda chipandale ou dos biscuits alemães.
Mas,guardar para que?!
Venda tudo e transforme aquele famoso conjunto de
porcelana chinesa numa viagem á China.Verá que ganhará na troca.
Mude de cidade se a sua não lhe agrada mais; as
cidades pequenas são tão queridas ,
principalmente aquelas onde os vizinhos ainda põem as cadeiras nas calçadas e
bebem café com sequilhos de coco.
Meninas de 50 anos ou mais, vocês notarão um brilho
novo nos seus olhos ; mesmo que existam
pés de galinha ao redor deles ,ficarão esquecidos graças ao fulgor do olhar.
Concordo, amiga! Só morrendo antes para não envelhecer, não é mesmo?
ResponderExcluirBeijooooo!