sexta-feira, 30 de março de 2012

CONVERSA CHATA,ESSA DE IDADE!...



Não dá outra. É só ter mulheres reunidas para que se fale de idade.
Perguntam a minha e respondo com satisfação, pois ,a menos que eu fosse um queijo, que tem que estar sempre fresco, a idade não me preocupa em nada.
Invariavelmente ouço um solidário: -Não parece!
Prestes a completar setenta anos sinto-me com vinte.Meu entusiasmo pela vida não arrefeceu, ainda não desisti dos homens e continuo vaidosa,como sempre.
Trabalho doze horas por dia e não me canso porque o cansaço  é muitas vezes consequência de um trabalho feito sem carinho,um trabalho mercenário,digamos assim.
Alguém se espanta:
-Mas,não trabalhamos para nos sustentar e ganhar dinheiro?!
-Também, respondo.
 Mas,o bom trabalho tem que ter uma dose de desprendimento, satisfação de realizá-lo, o prazer de “fazer acontecer” que se chama realização pessoal.E, esse trabalho nos mantém vivas e jovens.
As mesmas palavras que eu rabiscava aos vinte anos no meu diário particular ,eu as rabisco,hoje; apenas elas estão mais firmes,seguras,não se importam de aparecer.
Ser você mesma é uma das delícias da velhice.
Xi,quanta gente tem medo dessa pequena palavrinha.Lembra morte,pele sem viço,vista fraca, inutilidade,dizem. Mas, também, pode significar sabedoria,nobreza,desprendimento, aceitação,compreensão.
Então, a morte não fecha o ciclo da vida?
Então, o que perdemos em viço não ganhamos em conhecimento?E, o brilho do olhar, vem do corpo ou do espírito satisfeito com ele mesmo?
Para a  vista fraca existem os óculos.E, como a Natureza é sempre sábia,enxergando menos não percebemos as rugas.Ademais,temos os cremes milagrosos...
Desde tempos imemoriais se procura a juventude eterna sem perceber que ela existe, mas,nunca pomos onde realmente está.Ela habita o nosso espírito e tem que ser cultivada ,não é um dom grátis.
Ela habitava o espírito de Millôr, de Chico Anysio,de Chaplin,do Ariano e de muitos outros ,famosos ou não.
Ficar gagá não está nos meus planos nem do seu,amigo ou amiga.Quero o Alemão longe de mim ,porisso  exercito diariamente meu cérebro.
Como não tenho tempo para pensar em idade,nem em doença ou morte, elas ficam me espiando de longe.Se eu abrir a guarda...pimba!
Portanto,   também sou adepta das mudanças.
Adapto-me á realidade que se me oferece. Para que uma grande casa cheia de móveis pesados ,como já tive, numa época onde encontrar uma ajudante é mais difícil que tirar a sorte grande.
Para que roupas desconfortáveis e modernosas ,sapatos altíssimos que não dão segurança ao andar e nos faz parecer um pato manco?
E a maquilagem exagerada,o abuso nos verdes e azuis que nos fazem parecer uma vedete fanada.
Há uma beleza  sóbria ,elegante, na face vencida pelos anos.
Não, não queremos competição, queremos apenas a alegria de viver; não queremos um garotão de vinte anos, um garanhão  que nos derrube, preferimos um asno confiável que nos carregue no lombo e nos trate com doçura.
A idade nos faz ficar agarradas a trastes velhos que fizeram parte do nosso passado e é com muita relutância que nos separamos daqueles cristais do casamento ou da cômoda chipandale ou dos biscuits alemães.
Mas,guardar para que?!
Venda tudo e transforme aquele famoso conjunto de porcelana chinesa numa viagem á China.Verá que ganhará na troca.
Mude de cidade se a sua não lhe agrada mais; as cidades pequenas são tão  queridas , principalmente aquelas onde os vizinhos ainda põem as cadeiras nas calçadas e bebem café com sequilhos de coco.
Meninas de 50 anos ou mais, vocês notarão um brilho novo nos seus olhos ;  mesmo que existam pés de galinha ao redor deles ,ficarão esquecidos graças ao fulgor do olhar.





                                                 Millôr, eternas saudades









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