quarta-feira, 18 de junho de 2014

A BANALIDADE DO MAL


                                                                                   junho/14




                           A BANALIDADE DO MAL




Aproveitei o título deste magnífico livro da filósofa judia Hannah Arendt para expor meus pensamentos acerca do racismo,um dos três filhos de Leviatã e um dos mais obscuros sentimentos que podem brotar do ser humano.
Juntamente com seus irmãos malditos, o imperialismo e o niilismo,o racismo divide povos,causa guerra destrutivas e,muitas vezes,como um Júpiter raivoso,volta-se contra seus próprios filhos.Como vemos agora desencadeando-se na Internet,contra os nordestinos,resultado de uma campanha política baseada no ódio aos “diferentes”,capaz até de nos levar a uma guerra civil.Essa campanha parte de um segmento da classe média baixa,aquela que não enriqueceu e,frustrada nos seus objetivos tem raiva dos pobres e do migrante.Teme que as atuais políticas públicas para o Nordeste lhes tire os privilégios que consideram direitos adquiridos.Assim,chamam o “bolsa família de bolsa 171”.Essas considerações são comuns aos novos ricos,aqueles que ascenderam social,mas,não culturalmente e que não admitem mais gente ascendendo à classe média,mais gente forçando os portões desse clubinho fechado,privilégio de poucos.Assim, temerosos,diminuem os outros para validarem sua importância.
Segundo o antropólogo Roberto Albergaria ,”o imaginário popular acha que o Sul e o Sudeste representam a industrialização;o Norte,a natureza e o Nordeste a miséria,a ignorância e o analfabetismo.”Ignoram que foi este último que criou a adorável cultura do Nordeste;”por não saber se expressar de modo acadêmico,o nordestino criou um linguajar  próprio,uma cultura oral,corporal e gestual,que é um tesouro e não existe no Sul.”
O racismo e seu descendente – o preconceito – contra os nordestinos  vem de longa data;já dura quase duzentos anos e começou logo após a abolição da escravatura quando levas de imigrantes estrangeiros ,colonos fugidos de suas terras empobrecidas que os não podia sustentar,aqui chegaram em navios malcheirosos e imundos,tentando “fazer a vida” neste paraíso chamado Brasil.
Por um motivo climático preferiram ficar nos países do Sul e Sudeste.
Ai,com trabalho e determinação construíram um invejável patrimônio e mudaram a cara do país;queriam ganhar dinheiro,o ter acima do ser,diferente dos povos do Nordeste,cuja filosofia de vida era a busca  da felicidade,que para nós,consiste num trabalho  constante,mas,não ,escravo e nosso conceito de bem – estar significa a paz consigo mesmo,apreciar um pôr do sol ,que é de graça,afogar as mágoas no Carnaval,música,sol e cerveja.
Brasileiros de  descendência portuguesa,mesclado com os negros que ajudarama formar esta nação,sem quase nenhuma influencia estrangeira,incomodava os recém-chegados que queriam impor à terra que gentilmente os recebeu,seus costumes e valores.

De meros imigrantes ,graças ao poder do dinheiro que aqui conquistaram,passaram a donos da terra.Esses valores e essas idéias de predomínio da raça ariana,legaram a seus descendentes,alguns como aquela  infeliz personagem do twitter, o infeliz  jornalista Barán,beberam o leite materno,misturado com  ódio aos “diferentes.”
Meu desespero contra a vitória da  tucanada era por causa disto;estava vendo nosso país à beira de uma guerra civil.E,temo que isto aconteça novamente.Ou,melhor,já está acontecendo,pelo menos ,nas redes sociais.
Os acontecimentos  subseqüentes provaram que eu estava certa.
Nosso povo nordestino  recebe ,de braços abertos,qualquer brasileiro,porque sabe que todos são irmãos.Nosso clima,nosso sol,nosso mar azul,nosso conceito de felicidade ,nos torna indivíduos abertos a novos credos políticos ou religiosos,a novos valores,que respeitamos,á concórdia e a conciliação.
“Deixa a vida de Quelé” é nosso lema.
Tempos bicudos  fazem crescer o racismo e o preconceito,pois,ambos brotam da insegurança,da inveja e do medo de perder poder e influência;foi assim na Alemanha pós-guerra quando a burguesia empobrecida ajudou a criar e solidificar o nazismo;é assim na África,berço de todas as raças,mas,que sofre sobre a bota do colonizador e nunca se encontrou como nação. A França,país da liberdade.igualdade e fraternidade,começou um expurgo de estrangeiros,receosa do domínio mulçumano no seu meio,pois,eles são superiores em número e podem fazer nossa civilização ocidental branca simplesmente desaparecer num curto período de vinte anos.
Voltando ao Brasil,cabe a nós combater esse preconceito.Somos um grande povo e uma grande nação.E é justamente deste cadinho de raças que formaram o povo brasileiro que brotou este poderoso país de fortes e bravos.

*LEIA,TAMBÉM”:MANUAL PARA ENTENDER OS BAIANOS,um texto do meu livro “A Bahia de Outrora”.