quarta-feira, 27 de abril de 2011

A CASA DO ESPÍRITO


           
É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico ganhar o reino dos céus. A frase é  bíblica ,mas discordo dela.Porque nivela todo mundo e toda unanimidade é burra.
Há aqueles que enriqueceram pelo trabalho honesto, -os ingleses denominam -EARNS- e os que enriquecem de modo escuso,dinheiro mal explicado,lavado e enxaguado ,muitas vezes no suor e no sangue dos justos.Os ingleses chamam –GAINS- naturalmente para separar o joio do trigo.
Há aqueles que têm duas,ás vezes três casas para morar,todas muito luxuosas,cheias de obras de arte caras e sofisticadas,compradas com dinheiro de origem vergonhosa,enquanto seus donos procuram branquear suas próprias origens,escondendo um passado desonroso sob uma estória bonita que arranjou no presente  e que serve para lustrar suas origens  fortalecendo o futuro de seus descendentes.
Tenho um pouco de pena deles; vivem de aparência,sempre assustados,com medo de serem apanhados na ratoeira,bajulando poderosos,vendendo a consciência.
Não deveriam; porque a verdadeira casa de um homem é a sua consciência,a casa do espírito; não importa onde você estiver,nunca estará bem se for infiel á sua própria consciência.Pode deitar em lençóis egipicios, que não conciliará o sono, pode beber Veuve Clicqot, que o sabor será amargo,pode vestir Prada,ou usar jóias da Tiffany; jamais encontrará a paz.
Essas pessoas envolvidas pelo brilho falso do ouro dos tolos,desconhecerão sempre o aconchego do lar,a doçura de uma brisa mexendo nos cabelos,a alegria que nos traz uma tarefa bem cumprida.Eles não se permitem descansar.
Vamos erguer uma prece para eles quando entrarmos no aconchego da nossa casa e experimentarmos a paz que sentimos dentro daquele espaço que é nosso, onde estamos seguros, que tem o nosso jeito,a nossa marca,um pouco do nosso ser.Se a casa do nosso espírito estiver arrumadinha,independente de onde eu esteja 
no momento,estarei feliz.
Texto de Miriam Sales
Fale com a autora: miriamdesales@mail.com

quarta-feira, 20 de abril de 2011

COISAS DO COTIDIANO!




CHATEAÇÕES!

-Puxa vida, que é isso?! Que diazinho... Esse veio de encomenda!
Maria conversava com seus botões, muito agoniada.
No escritório a bruxa andava solta.
O chefe que não era nenhuma Brastemp mesmo nos dias claro, um fingido bipolar que parecia muito educado a ponto de beijar a mão das damas e  logo em seguida xingar-lhes as mães,conduzia os trabalhos numa boa, mas,de repente,destratou um colega e quase saíram na mão grande.
O colega era muito querido e o chefe apenas tolerado.
O clima  pesou,a energia estava tão carregada que dava a impressão que poderia ser cortada à faca.
Maria saiu de lá com dor de cabeça e o trânsito não ajudava.
Pequenas discussões á toa entre motoristas,que se mimoseavam com palavrões curtos , mas,eficazes.
Nem sei porque se diz – palavrões –pois,os muitos que ela conhece e os mais pesados eram curtinhos, curtinhos.
-Certamente pisei em rasto de corno, pensou Maria, pois, em casa o clima não estava melhor.
O marido carrancudo, mal grunhiu um cumprimento seco.Será que tinha sobrado também para ele? Quem seria o regente do dia? Dia tem regente ou é só mês? Precisava consultar o horóscopo.
Depois de tantas nuvens carregadas, um banho rápido e um café com pão sem gosto (era de regime),  Maria encontrou um lenitivo.A novela!  Sim,a bendita novela da meia- noite.
Fazia tempo essa era sua única diversão. Assinaram um desses canais pagos e, um deles,reprisava antigas novelas.
Maria apegou-se á “Vale Tudo” que era reprisada quinze para meia-noite.Era um sacrifício  manter-se acordada até lá, principalmente para quem tinha de levantar-se ás seis e meia.
Mas,ela resistia.Perder as peripécias da Odete Roitman, nem pensar...
Mantinha-se alerta, assistia tudo que vinha antes, mas, não perdia  o capítulo , mesmo cochilando entre os comerciais.
Deitou-se no sofá,relaxada, apanhou um pratinho de nozes e passas e esperou.
Vieram os programas de humor,a série que antecedia a novela e ela, firme como um bom sentinela.Nem piscava.
Enfim, começaram a apresentar os créditos do programa.Maria sentou-se, atenta.Finalmente, ia começar.
E foi aí que desabou o toró.Daqueles que parecia anteceder o juízo final.O sinal sumiu como  costuma  acontecer nessas não muito raras ocasiões.
Com um gemido, Maria foi deitar...


Texto de Miriam Sales
Quer falar comigo?
E-mail:miriamdesales@gmail.com

sexta-feira, 15 de abril de 2011

NOVA EDIÇÃO DO LIVRO " A BAHIA DE OUTRORA"

A SEGUNDA EDIÇÃO   " A BAHIA DE OUTRORA" JÁ ESTÁ NAS LIVRARIAS À DISPOSIÇÃO DOS LEITORES.
O LIVRO DE AUTOR BAIANO MAIS VENDIDO EM 2010.
1ª EDIÇÃO ESGOTADA!
Vem com textos novos e excelentes recomendações na contra - capa.
O presente da autora para seus leitores continua.
Levando para casa essa nova edição ,o leitor ganhará o E- book "As Filhas do General".
O livro custa $28.00 e poderá ser enviado, gratuitamente,via sedex,para qualquer parte do mundo.
Reside fora de Salvador?
Peça o seu pelo e-mail: miriamdesales@gmail.com
Ou compre nas livrarias credenciadas:
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Banca de Revistas (Shopping Barra,térreo)
Livraria Cultura (Shopping Salvador)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

QUARTA DE RISOS!





A PULGA SALVADORA
“O anel do médico tem duas cobras porque ele cobra quando cura  e  
cobra quando mata.”
                               
                           Barão de Itararé
                              Dr. Eusébio já clinicava em Maracás há mais de quarenta anos. Chegou recém-formado, tímido, ar caipira, mas, no decorrer do tempo, com lhaneza e competência, ganhou muitos pacientes, entre esses, a conta "estrelada' do Cel. Quinzinho; ninguém na família do coronel freqüentava outro médico.
Dr.Eusébio  trouxe ao mundo os cinco filhos do casal,tratava da rinite de D.Candinha e de uma infecção crônica no ouvido direito do Quinzinho, que já durava perto de vinte anos. O doutor casou-se, teve um filho, acostumou-se á cidade que o acolheu e nunca mais saiu.
 Seu filho cresceu, foi estudar na Capital,junto com o filho mais velho do coronel, e,quando quis estudar medicina - foi a glória!-O pai babava-se de gosto e já tinha até mandado vir de Campo Formoso uma bela esmeralda, para seu Jofre, o ourives, fazer o anel de formatura.
Voltando o rapaz todo lampeiro,já doutor de anel e diploma, clinicou com o pai uns seis meses, até que este lhe disse:
-Pedrinho, meu filho, eu e sua mãe sempre tivemos o desejo de ter uma rocinha, coisa pequena, para acabar nossos dias em paz, no meio das galinhas e cabras, plantando nossos legumes, tomando banho de rio e pitando meu cigarrinho, na rede, ao pôr do sol. A clínica, bem procurada, fica contigo;vai garantir o teu pão e o de teus filhos, como garantiu o meu. Sei que és um bom médico, vais criar renome, mas, te peço;dê uma atenção toda especial ao Coronel; visite-o sempre, tome-lhe a pressão e acompanhe com cuidado aquela supuração que ele tem no ouvido, é crônica, não tem cura, mas, vai aplicando mézinhas e evitando a dor, que correrá tudo bem, se Deus quiser.
 Venho daqui há seis meses ver como estás;se precisares, manda o Juvêncio com um bilhete. Beijou o filho e se foi. Seis meses depois,quando voltou, encontrou a clínica cheia, o filho atarefado, não puderam conversar até o almoço;conversa vai, conversa vem, o filho lhe disse, o peito estufado de orgulho:
-Pai, não vás acreditar! Olha que curei o ouvido do Cel.Eusébio; o homem 'tá que ninguém agüenta, feliz como pinto no lixo, aonde vai conta a estória e é Deus no céu e eu na terra.
                    -Então o curaste! O coronel 'tá feliz,mas,eu não estou e logo,logo tu também não ficarás.
                     -Como assim,papai!? Não te entendo. O coronel tinha uma infecção causada por uma pulga que lhe entrou no ouvido e apostemou,dei-lhe penicilina,ficou curado.
                     -Meu filho,essa pulga, pagou teus estudos nos Maristas,pagou tua faculdade,anel e diploma,pagou esta casa e meu sítio,bobo.
E,agora,como vai ser???

Esse texto de humor está no livro "CONTOS E CAUSOS" desta escrivinhadora.
Peça o seu pelo e-mail:miriamdesales@gmail.com.Frete grátis.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A PAIXÃO




“Ninguém viu onde estará

minha lágrima perdida?”

Conheci um homem que me disse que nunca se apaixonou; conheceu uma moça,casou-se ,tiveram filhos,mas,em nenhum momento viveu aquela fúria,aquela explosão de sentimentos,aquele turbilhão, que caracteriza a paixão.

Se o medo é o preconceito dos sentidos,a paixão é o transbordamento da alma;olhei para aquele homem,com uma pena sincera.Nunca ter sentido as agonias da paixão,as esperas,as revoltas,as lágrimas,o desespero,a doçura,o frêmito-coitado dele!-não era um homem,era um vegetal.

A boca seca, o olhar ávido,aquele fogo interior que queima as entranhas,aquela lassidez, a vontade de se escravizar,de se tornar rainha,o desejo da doação de si mesma,a fúria do desejo desenfreado,a busca,aquele tesão de doer os dentes,ele não viveu nada disso.

Teve uma vida morna como um chá passado.Deve beirar os setenta anos e,nada conhece dos sentimentos humanos.Não sofreu,mas,também,não viveu;não arriscou,mas,também,não ganhou:foi um espectador da vida.Passou pela vida em brancas nuvens,só passou pela vida,não viveu...

Nunca viver um amor imensurável e forte,um amor desvairado,que toque os céus e desafie a morte ,deve ser terrível.Sei que uma paixão desatinada sempre acaba em manchete de jornal:alguns matam e morrem por amor,mas pelo menos,viveram.

Amei e sofri por amor, mas, não me arrependo;escrevi a estória da minha vida a fogo e paixão,desci aos infernos,no terceiro dia ressurgi dos mortos,conheci o delírio e a paz do amor,muitos amores,porque ele tem mil faces.Mas,não trocaria a minha vida conturbada pela pasmaceira mórbida das vidas sem paixão.

Texto de Miriam Sales
E-mail:miriamdesales@gmail.com