junho/14
A BANALIDADE DO MAL
Aproveitei o título deste magnífico livro da filósofa
judia Hannah Arendt para expor meus pensamentos acerca do racismo,um dos três
filhos de Leviatã e um dos mais obscuros sentimentos que podem brotar do ser
humano.
Juntamente com seus irmãos malditos, o imperialismo e o
niilismo,o racismo divide povos,causa guerra destrutivas e,muitas vezes,como um
Júpiter raivoso,volta-se contra seus próprios filhos.Como vemos agora
desencadeando-se na Internet,contra os nordestinos,resultado de uma campanha
política baseada no ódio aos “diferentes”,capaz até de nos levar a uma guerra
civil.Essa campanha parte de um segmento da classe média baixa,aquela que não
enriqueceu e,frustrada nos seus objetivos tem raiva dos pobres e do
migrante.Teme que as atuais políticas públicas para o Nordeste lhes tire os
privilégios que consideram direitos adquiridos.Assim,chamam o “bolsa família de
bolsa 171”.Essas considerações são comuns aos novos ricos,aqueles que
ascenderam social,mas,não culturalmente e que não admitem mais gente ascendendo
à classe média,mais gente forçando os portões desse clubinho fechado,privilégio
de poucos.Assim, temerosos,diminuem os outros para validarem sua importância.
Segundo o antropólogo Roberto Albergaria ,”o imaginário
popular acha que o Sul e o Sudeste representam a industrialização;o Norte,a
natureza e o Nordeste a miséria,a ignorância e o analfabetismo.”Ignoram que foi
este último que criou a adorável cultura do Nordeste;”por não saber se
expressar de modo acadêmico,o nordestino criou um linguajar próprio,uma cultura oral,corporal e
gestual,que é um tesouro e não existe no Sul.”
O racismo e seu descendente – o preconceito – contra os
nordestinos vem de longa data;já dura
quase duzentos anos e começou logo após a abolição da escravatura quando levas
de imigrantes estrangeiros ,colonos fugidos de suas terras empobrecidas que os
não podia sustentar,aqui chegaram em navios malcheirosos e imundos,tentando
“fazer a vida” neste paraíso chamado Brasil.
Por um motivo climático preferiram ficar nos países do
Sul e Sudeste.
Ai,com trabalho e determinação construíram um invejável
patrimônio e mudaram a cara do país;queriam ganhar dinheiro,o ter acima do ser,diferente dos povos do
Nordeste,cuja filosofia de vida era a busca
da felicidade,que para nós,consiste num trabalho constante,mas,não ,escravo e nosso conceito
de bem – estar significa a paz consigo mesmo,apreciar um pôr do sol ,que é de
graça,afogar as mágoas no Carnaval,música,sol e cerveja.
Brasileiros de
descendência portuguesa,mesclado com os negros que ajudarama formar
esta nação,sem quase nenhuma influencia estrangeira,incomodava os
recém-chegados que queriam impor à terra que gentilmente os recebeu,seus
costumes e valores.
De meros imigrantes ,graças ao poder do dinheiro que aqui
conquistaram,passaram a donos da terra.Esses valores e essas idéias de
predomínio da raça ariana,legaram a seus descendentes,alguns como aquela infeliz personagem do twitter, o infeliz jornalista Barán,beberam o leite
materno,misturado com ódio aos
“diferentes.”
Meu desespero contra a vitória da tucanada era por causa disto;estava vendo
nosso país à beira de uma guerra civil.E,temo que isto aconteça
novamente.Ou,melhor,já está acontecendo,pelo menos ,nas redes sociais.
Os acontecimentos
subseqüentes provaram que eu estava certa.
Nosso povo nordestino
recebe ,de braços abertos,qualquer brasileiro,porque sabe que todos são
irmãos.Nosso clima,nosso sol,nosso mar azul,nosso conceito de felicidade ,nos
torna indivíduos abertos a novos credos políticos ou religiosos,a novos
valores,que respeitamos,á concórdia e a conciliação.
“Deixa a vida de Quelé” é nosso lema.
Tempos bicudos
fazem crescer o racismo e o preconceito,pois,ambos brotam da
insegurança,da inveja e do medo de perder poder e influência;foi assim na
Alemanha pós-guerra quando a burguesia empobrecida ajudou a criar e solidificar
o nazismo;é assim na África,berço de todas as raças,mas,que sofre sobre a bota
do colonizador e nunca se encontrou como nação. A França,país da
liberdade.igualdade e fraternidade,começou um expurgo de estrangeiros,receosa
do domínio mulçumano no seu meio,pois,eles são superiores em número e podem fazer
nossa civilização ocidental branca simplesmente desaparecer num curto período
de vinte anos.
Voltando ao Brasil,cabe a nós combater esse
preconceito.Somos um grande povo e uma grande nação.E é justamente deste
cadinho de raças que formaram o povo brasileiro que brotou este poderoso país
de fortes e bravos.
*LEIA,TAMBÉM”:MANUAL PARA ENTENDER OS BAIANOS,um texto do
meu livro “A Bahia de Outrora”.
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