Não sei porque, mas,sempre
que folheio meu jornal diário fico pensando que,no passado, era melhor.Não
tínhamos que ler tanta notícia má e nem mesmo ler,pois como diz Caetano –“quem
lê tanta notícia?!” já que , a maioria das pessoas ouvia mesmo era o rádio.
Creio que começar o dia ouvindo pagode e lendo jornais, que
são meros bancos de sangue encadernados,não despertará nossos melhores instintos,com
certeza.
Viver na Salvador de hoje , uma megalópolis de quase três milhões de habitantes,ruas engarrafadas a qualquer momento,gente espremida em ônibus
lotados,carros demais nas ruas que foram feitas para as carruagens
seiscentistas e sendo obsequiada com o pior prefeito de todos os tempos,dá-nos
a impressão de que o Senhor do Bonfim tirou férias ou cansou de nós e decidiu
voltar a residir em Setúbal,mesmo tendo que engolir o Cavaco,goela a dentro.
Se não fosse a brisa marinha e as belas paisagens acho que os baianos surtariam.
Cada vez mais precisamos de três palavrinhas começadas com a letra P – paciência,prudência
e persistência – para resistirmos ao
desejo de chutar o pau da barraca e emigrar para o Interior,com casinhas
simples e cadeiras nas calçadas, além dos quadros simplórios :-”Esta
casa é um lar” e vizinhas sentadas na porta,à tardinha ,trocando receitas e falando da vida alheia( que,pode até ser pecado,mas ,é
divertido) dando a cor local e um viés de serenidade tão necessário para uma
vida feliz.
Sei que são palavrinhas antiquadas, ainda usam chapéu e
vêm resistindo a reformas ortográficas sem nexo,feitas apenas para ocupar o
tempo dos gramáticos.
Paciência necessária no trânsito,no lidar com os nossos
dessemelhantes,com o governo,com os
familiares, todos estressados,com as horas perdidas nas filas.
Paciência com juros estratosféricos,mulheres de callcenter,
contas que não fecham,escolas públicas destruídas ou sem vagas e o eterno blábláblá
dos políticos.
Uma famosa cantora baiana queixou-se da preguiça dos seus
conterrâneos porque um deles demorou de consertar seu ar condicionado; por se
sentir desprestigiada ,afinal ela pensa que é uma “personalidade” jogou a pecha
de preguiçoso em todos os
baianos,Precisamos ter paciência,também,com essa falsa baianas apaulistada, que
colocou no mesmo saco um bando de grãos de farinha diferentes.Toda unanimidade
é burra,dizia o Mestre Nelson Rodrigues e,quem sabe ,a própria moça não teve
preguiça de procurar melhor um técnico ou uma empresa que pudessem melhor lhe
servir.Acontece!
Mas,voltemos às palavrinhas.
Prudência é uma palavra tão boa como qualquer outra e até
tem status de substantivo próprio , pois ,virou nome de gente.
Ela nos ajuda a não cair em frias,não extrapolar nos
gastos e nem confiar em qualquer
peralvilho que se nos apresente.
Há muito ,prudentemente,aprendi a desconfiar de elogios
reiterados e repetitivos.
Prefiro as críticas honestas porque ,essas eu estou pronta para receber e
responder.Mulher de desconfiômetro ativo,sei que não estou com essa bola toda
que as pessoas querem me fazer acreditar.
Lembro daquele filósofo grego de tempos idos que,quando
era aplaudido pela multidão,se perguntava:
-Que besteira será que eu falei?!
Bem, nos resta falar da persistência. Gosto muito desta palavra, apesar
de ser difícil de pronunciar,especialmente por jornalistas de TV que estão
sempre se enrolando com ela.
É a persistência que nos leva ao sucesso,seja para conseguir uma audiência com
um político ou publicar um livro.
A persistência põe-me todo dia diante de uma tela em
branco de um computador,onde escrevo
essas mal traçadas pensando na posteridade ,mesmo que ninguém leia ou comente.
Persisto, também,no meu propósito de lutar para que a
Bahia seja conhecida por sua Literatura,que existe,apesar de não ser
divulgada,e,não apenas pelos pagodes e axés da vida.Não,ainda não me cansei de
dar murro em faca de ponta.
Afinal ,os acadêmicos,são (ou deveriam ser) os apóstolos
modernos e exercer seu apostolado difundindo a cultura por aí,seja aos corintianos ou aos
flamenguistas,não importa.
São Paulo não difundiu o Evangelho aos coríntios? E,se o fez é
porque naquele tempo não havia corintianos,exceto o presidente Lula que é
atemporal.
Obrigada pela paciência ao ler essa crônica e persista nessas leituras com carinho e prudência.
‘té mais!