No Egito,as ruas respiraram aliviadas.
O grito que não queria calar : -Fora Mubarak - e que durante quase três semanas assombrou o
presidente e o mundo,finalmente foi ouvido.
Os militares,preferindo sacrificar o presidente para
salvar o regime,não hesitaram.Mandaram seu ditadorzinho para a praia.E, que
praia! O charmoso (desculpem,não resisti ao trocadilho) balneário de Sharm El-Sheik,na península do Sinai,onde
o deposto pode se consolar das mazelas do golpe,sem se preocupar com o futuro
do Egito,que saqueou durante trinta anos,já que o seu futuro e da sua família
está devidamente garantido nos bancos suíços.
Os militares só esqueceram de defenestrar o odiado vice-presidente
Suleiman ,capacho dos americanos,e até permitiram que fosse ele a dar a boa
notícia à população.
Tudo resolvido? Quem sabe?
Todas as autocracias árabes eram sustentadas pelo poder e
o dinheiro americanos,no intuito de
manter o seu controle do Oriente Médio e proteger seu mais caro
aliado,Israel.Por isso,todos os presidentes da superpotência toleravam a
corrupção,a tortura,a falta de respeito às leis,a repressão e a incapacidades
desses governos cooptáveis.
Mubarak e Barak se davam muito bem.O primeiro cheirava
mal,mas,o outro fingia não notar.
Morreu o rei,viva o rei e agora,José?! Ou,melhor Yussef?
Na verdade,o Egito quase nunca conheceu a paz;desde
tempos faraônicos esse povo jamais depôs a espada.
Em 1952 quando o nacionalista Gamal
Abdel Nasser depôs o rei Farouk e incomodou o Ocidente criando o pan-arabismo ,os
egípcios estavam felizes com a conquista da liberdade.Os ocidentais,não.Nasser,com o seu movimento dos
“oficiais livres” refutava qualquer
controle ocidental.Nacionalizou o Canal de Suez,deflagrando uma guerra contra
potencias européias e,só perdeu poder quando foi vencido por Israel na Guerra
dos Seis Dias,quando toda a frota aeronáutica egípcia foi destruída ainda no chão pela aviação israelense.
Seguiram-se Anuar Sadat,assassinado por ter
concordado com um tratado de paz com os
sionistas e Mubarak,que foi o herdeiro deste movimento.
Mas, o petróleo ainda é o petróleo,Suez ainda é o maior
escoamento desta preciosidade da qual os americanos tanto precisam e Israel
depende do gás egípcio para viver.Por ai ,vê-se o tamanho da encrenca.
O bom deus Jeová,apesar do mais poderoso deus do mundo
não deu a seu povo bem-amado gás nem petróleo.Já Allah,deu ao seu tudo isto!
Entende agora porque o terror dos ocidentais pró Israel?
Se a Irmandade Muçulmana,grupo político que o Ocidente
abomina e tacha como terrorista, chegar ao poder,os ocidentais podem perder
tudo isso;a depender de como se desenrolem as coisas até o Canal de Suez pode
ser fechado.E,ai,babau!Acabou-se o que era doce...
Todo o grupo pró-árabe,no qual me incluo,deseja a
ascenção da Irmandade Muçulmana que dará voz e vez a seu povo tão espoliado por
nós,ocidentais.
Meu desejo é que a nação árabe se entenda e se
encontre,faça valer seus direitos e expurgue para longe os ditadores de
fancaria impostos pelas potencias
ocidentais.Que possam viver do seu jeito e como acreditam; jeito esse que
difere daquilo que nós ocidentais chamamos de democracia.E
que,nem de longe se parece com a democracia (demokrácia) grega,por exemplo.
O Ocidente nunca aceitou as diferenças culturais dos
outros povos;todos têm que rezar pela cartilha ocidental,manter a mesma moral
judaico-cristã,seguir os mesmos valores
da nossa hoje falida civilização.
Não vamos esperar que os egípcios aceitem Israel ,que se
alinhem com os americanos ,que mudem suas políticas com relação às mulheres,que
abandonem a sharia ou que mudem de deus.
Os egípcios podem ,sim,realizar eleições livres.à maneira
deles.
Uma civilização milenar sabe muito bem como conduzir-se
no século XXI sem precisar de mentor.
IMG:Cartun de Carlos Latuff
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