Amado
Quando o telefone toca e ouço tua voz do outro lado do
fio –meu amor,puxa! – tudo passa a ficar tão bonito!
Sinto que te amo.Te amo muito apesar das decepções,das
ausências,das noites vazias.Talvez seja eu a culpada por muito exigir e pouco
cobrar.Pois eu queria não ser apenas um acidente na tua vida,queria ocupar um
espaço nela,numa escala de importância como as tuas telas,teus amigos,teus
interesses...
Amar também é exigir,porque eu te dou tudo,meus
pensamentos,todas as minhas horas,numa devoção de beata,num fervor de crente.
Já tentei racionalizar este amor (racionalizar o
amor!?Devo estar doida!) pô-lo no seu devido lugar,estabelecer um equilíbrio de
sentimentos,toma lá ,dá cá,,mas,não consigo refrear esta paixão instintiva,insolente,despudorada,
que teima em ocupar espaço no meu coração,expulsando com fúria de policial nas
passeatas os outros homens que me desejam e me querem e que poderiam me
oferecer muito mais do que um colóquio ao telefone.
Pois,como qualquer mulher,eu sonho com um relacionamento
amoroso,estável,pacífico,uma convivência feliz,um companheiro para contar...
Mas,tu ,que estás sempre a anos luz da minha vida,que
quase nada sabes de mim além dos meus suspiros controlados pelos detestáveis relógios que dobram finados pelo
nosso amor ,porque não posso parar de te querer?
Tenho consciência de que não sou feliz,de que não me
fazes feliz e, no entanto ,prossigo com esta loucura,porque?
Estou descobrindo em
mim facetas desconhecidas e sei que quando tudo isto se acabar nem eu nem tu
seremos os mesmos.De uma certa maneira cada um de nós desencadeou uma revolução
dentro do outro.Nos abrimos por completo um para o outro,não apenas de modo
físico ou sexual,mas,como seres humanos relacionados de um modo secreto num
mundo particular,só nosso,onde nenhum estranho
poderá penetrar.
Claro que tenho momentos de felicidade; quando deitados
um ao lado do outro,coladinhos,nossas pernas entrelaçadas,nossa respiração
misturada,minha cabeça descansando no teu peito.Acaricias meu cabelo com doçura
e murmuras palavras doces e amorosas.Neste momento não temos perguntas que nos
separam;somos unos no nosso desejo e na nossa paixão.Um prazer que aflora dos
nossos corpos,um cheiro de libido no ar,um doce ronroronar de corpos saciados.
Mas,o sofrimento volta,cruel,constante,doloroso quando
estou longe de ti;desejaria nunca ter te conhecido.
Se fôssemos amigos te alertaria sobre os perigos de
brincar com corações alheios;sinto que começo a questionar tudo isto e um belo
dia irei embora.O amor necessita de alicerces e tu me empurras para baixo,um
pouco cada dia e esta casa pouco sólida desabará.Então o que te restará?
Será que outra mulher te amará como eu te amei,será tão
tolerante como eu fui,tão compreensiva,afetuosa e desprendida?
Pensando bem acho que meu erro está ai;pois toda filha de
Eva deve ser um pouco demoníaca porque os homens gostam assim;precisam de uma
santa em casa na rua querem libertinagem e paixão.Aqueles nos quais eu bati
forte estão até hoje ao meu redor como libélulas no fogo.
É ,resta esperar o refluxo da maré.Quem sabe,num dia que
não está muito longe,essas palavras que escrevo hoje não brotarão da sua boca e
do seu coração e estes tormentos não serão teus?
Um beijo da tua
Amada
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