quarta-feira, 19 de maio de 2010

ÔNIBUS URBANO


Ninguém gosta ninguém quer, mas, a maioria precisa; por isso eles passam lotados, desafiando a física, que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Os passageiros são pessoas diversas, com itinerários e propósitos diferentes: uns vão ao trabalho, outros ao médico, os aposentados aos bancos, estudantes ás escolas; no horário de pico, raros saem a passeio; esses preferem o meio da manhã ou à tarde, quando o fluxo é menor. Difícil é encontrar uma cara alegre;o mau humor é geral. Afinal,arriscam-se a tudo;viajar em pé,apertados como sardinha em lata,vida de gado,bolinados,roubados por descuidistas,assaltados,desconsiderados pelos outros passageiros,humilhados por cobradores deseducados,motoristas despreparados,que não respeitam as paragens,veículos velhos,alguns devem ter vindo na bagagem da Família Real,tudo para acirrar os ânimos e fazer essas pessoas chegarem como um trapo,ao seu destino.Daí,as confusões que acontecem. Naquele espaço exíguo e apertado,ainda cabem vendedores,pedintes com estórias estapafúrdias,velhotes irritados que reclamam de tudo,mas,como tudo na vida tem um lado engraçado.Estórias incríveis acontecem envolvendo passageiros,que nos fazem morrer de rir. Aqui em Salvador tem um bairro chamado Pau Miúdo, onde fica um hospital muito procurado.Nos anos 60 ,a gente tomava esse ônibus numa paragem na Ladeira da Praça,no centro histórico,perto do hoje famoso Pelourinho. Muitas “baianas”de acarajé tomavam esta condução para ir e voltar do “ponto de venda”,pois sendo o Pau Miúdo,um bairro popular,muitas moravam por lá,numa ladeira íngreme,que constituía quase todo o bairro. Minha tia Idalina era enfermeira deste Hospital e, um dia,levou-me com ela.O ônibus chegou,nos preparávamos para subir,quando uma senhora gorda,chegou com uma cesta enorme e pesada,na cabeça e perguntou ao cobrador: -Pau miúdo sobe moço? E, ele, com uma cara bem safada, respondeu: -Depende, dona. Ela só queria saber se o raio do ônibus subia a ladeira. Há uns anos atrás eu ia ao centro, resolver qualquer coisa, quando peguei um transporte com quase todos os assentos tomados; só havia um livre, na minha frente, ocupado por um senhor magrinho, vestido de branco, lendo um jornal. Entrou,pela frente,uma senhora idosa,muito gorda e, com um bundão,que,se ela distribuísse para duas pessoas,ainda haveria de lhe sobrar bastante.Apresentou seu passe de idoso e sentou-se ao lado do enfezado cavalheiro;e,aí,começou a discussão.Ele falou: -A senhora pode chegar mais prá lá, pois está me apertando na cadeira? A mulher removeu suas banhas mais para o lado do corredor, porém, ele voltou á carga: -Dona, a senhora está me incomodando, eu quase estou saindo pela janela do ônibus... A mulher olhou de cara feia e disse que não podia aliviar mais. Ele retrucou,já bastante irritado: -Com esta bunda a senhora não deveria andar de coletivo para incomodar todo mundo. Vá de táxi. A mulher, possessa, respondeu: -O sinhô queria que eu deixasse minha bunda em casa!?Prá onde eu for,tenho que levar.Ora,faz-se da roça,moço... È ou não é divertido?

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