segunda-feira, 16 de agosto de 2010
UM FATO E TRÊS VERSÕES
Seu Plutarco era um homem de opinião.Cáustico,mal encarado,pouco falava e quase nada ouvia pois,graças ao seu proverbial mau – humor tinha poucos interlocutores.
Sendo pouco comunicativo as pessoas se perguntavam porque um sujeito assim tinha uma mercearia.Parecia a pessoa menos indicada para lidar com o público;pelo menos,o público daquela rua conhecida como a rua dos fuxicos e mexericos.
Mas,seu Plutarco estava ali há 14 anos;de avental ,sempre atrás do balcão,lápis atrás da orelha,tudo vigiando e tudo vendo.
Se o freguês precisava se informar sobre a mercadoria ele respondia com quatro pedras na mão ou,simplesmente mandava à merda.
Um garoto com cara de fuinha,magro como um arenque,estava sempre por perto para despachar o sal ou o café e fazer pequenos mandados.
Exatamente às onze horas,com a precisão de um cronômetro,seu Plutarco acena para o garoto e diz:
-Tonico vai na venda de Olegário e trás uma garrafinha de cana.Bote dentro deste saco prá não dar na vista.E não demore.
Seu Plutarco jamais vendia cachaça na sua mercearia; dizia que era bebida do demo,que destruía famílias e ele não se prestava a esse papel de intermediário do diabo.
Se o freguês insistisse sobravam os palavrões.
Assim que o garoto chega seu Plutarco, escondido no banheiro,começa a mamar a garrafa.O bem –bom dura pouco e,logo,logo ele volta para atender a freguesia.
O calor da tarde é forte,por volta das quatro horas todos estão fazendo a sesta,seu Plutarco chama novamente o garoto.Quer outra,mas, recomenda:
-Trás escondido prá essa gente não falar que sou bebum.Bebo um pouquinho para distrair,mas,essa gente não respeita ninguém.Trás embrulhada no jornal.Quem não gostar que se dane!
O menino vai,compra,embrulha,vem,entrega e sai.
Lá dentro a festa continua.
Cai a noite e perto das oito seu Plutarco vai fechar a loja.
Vem cambaleando,uma maçaroca de dinheiro nas mãos,fungando qual um gambá,ar desafiador e chama o garoto.
-Tonico,vai no Olegário e trás duas garrafas.Da boa.Da de Santo Amaro.E nada de despiste.Deixa todo mundo ver.Ninguém tem nada com isso,bebo com meu dinheiro,eles que se f#*@&.
E batendo uma mão na outra:
-Corre,moleque!
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