Genésio tinha alma de repórter.Todos os dias de manhãzinha,beijava a mulher,Clarinda ,dizendo:
Vou assuntar as novidades; e, estas,pareciam cair no colo dele,pois todo dia,ao voltar,reportava um fato novo.
-Filha, assisti um acidente bárbaro;com vítimas.Um ônibus bateu num gol, tinha cinco pessoas da mesma família,morreram todos.A culpa foi do motorista do carro, tive que depor no Distrito.
Clarinda não gostava nada disso. Todo dia Genésio chegava tarde porque precisou ir ao Distrito, depor.Se fosse hoje, com essas filmadoras que registram tudo e o sujeito esperto envia o filme ou foto para um desses jornais ou rádios banco de sangue encadernados, o Genésio estava rico.Dizem que essa mídia chega a pagar até 800 pratas, por filme.
Ninguém sabia qual era a ocupação de Genésio, nem mesmo a mulher, que o chamava, ironicamente de “testemunha profissional.”
Ele emburrava.
-Que brincadeira de mau gosto, mulher,isso ainda vai dar encrenca.
Na última sexta-feira que saiu, voltou de porre.Amanhecia, e, ela acordada, esperando por ele, uma preocupação só.
-O que aconteceu, cara!?Você tá péssimo!
-Filha me dá um sonrisal, te conto amanhã,foi horrível!
-Quero saber agora.
-Pois é, estive no Distrito...
-Isso não é novidade.
-Sem querer assisti a um flagrante de adultério, imagina!Sabe a morena do quinto andar, a Rosinha? Pois é, o marido levou uns tiras e pegaram ela com um cara, num motel suspeito do Pelourinho.
A mulher ficou intrigada.
-E como foi que você viu isso!?
Ele desabou na cama, cobriu-se todo com um lençol, soluçando como um bebê chorão, enquanto a Clarinda “um poço até aqui de mágoa”, pegava atabalhoadamente as suas coisas e enfiava de qualquer jeito numa mala.
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